Presença de Otto Maria Carpeaux (V)


           O crítico e sua fortuna


Guilherme Mazzafera S. Vilhena
Doutorando em Literatura Brasileira na USP
 “A glória, já se disse, é o conjunto dos mal-entendidos que se criam em torno de um nome”: a primeira linha do texto de estreia de Otto Maria Carpeaux em terras brasileiras não poderia ser mais emblemática. Passados mais de 40 anos de sua morte, o estudo da produção ensaística de Carpeaux ainda encontra pouco espaço nas universidades brasileiras, onde seus escritos são lidos sobretudo como textos de apoio. Atuando em um momento de transição do paradigma crítico do rodapé para a especialização universitária, Carpeaux, que jamais se incorporou como docente à academia, teve seus livros e ensaios gradualmente subsumidos por um limbo editorial, ocultamento este reforçado pela censura política de que foi vítima. No entanto, a partir da entrada do novo milênio este denso horizonte começa a se desanuviar.

No âmbito de estudos e trabalhos mais pontuais por pesquisadores universitários, cabe destacar a atuação de dois professores da Universidade de São Paulo. Zenir Campos Reis trabalhou ao longo de vários anos em um projeto de edição de inéditos e dispersos bem como de reedição revista da obra de Carpeaux. Os frutos desse trabalho, apesar de exíguos, são de extrema importância: a “descoberta” dos ensaios “Teatro e Estado do Barroco” e “Formas do romance”. Na publicação do primeiro destes, em 1990, Reis adverte-nos sobre a urgência de travar batalha contra “o injusto esquecimento” de Carpeaux, e, em 1996, com a publicação do segundo, reforça a necessidade de uma leitura atenta diante da consciência etimológica, da “erudição sistemática” e da múltipla historicidade mobilizada por seus escritos. É da lavra de Reis, aliás, uma das mais minuciosas observações sobre o estilo de Carpeaux, enfatizando seu uso sistemático do discurso indireto livre “como forma de glosar o pensamento dos autores que tratou” (2002, p. 293). Na mescla profusa entre a fala do crítico e a enunciação do pensamento alheio, tem-se a construção de uma “consciência sociológica” que, se não deixa de ser por vezes desnorteante, faculta ao texto crítico certa dose daquela “força criadora” prezada por Carpeaux em seus pares de ofício.  

Já nos escritos de Alfredo Bosi a presença de Carpeaux tem-se feito constante, (1978; 1999; 2002; 2013; 2017), incluindo a organização do volume Sobre Letras e Artes (1992), coletânea de textos publicados no suplemento homônimo do periódico carioca A manhã que não haviam entrado nos livros lançados por Carpeaux. Cremos ser justo dizer que Bosi é o crítico que melhor absorveu as ideias e até mesmo parte do método de Carpeaux, denominado por aquele de estilístico-cultural. É, aliás, em função dessa filiação que o estudo panorâmico de Carpeaux sobre a literatura alemã – publicado originalmente em 1964 pela Cultrix e reeditado em 1994 pela Nova Alexandria, com posfácio de Willi Bolle sobre a literatura produzida entre 1960 e 1990 – foi rebatizado, em sua publicação pela Faro Editorial em 2013, com título semelhante a um dos mais famosos livros de Bosi, História concisa da literatura brasileira, obra publicada em 1970 e dedicada ao ensaísta austríaco.

Nos programas de pós-graduação, a primeira dissertação de mestrado sobre Carpeaux foi defendida na USP em 1992. Um diálogo crítico: Otto Maria Carpeaux e as “ciências do espírito”, de Maria do Carmo Malheiros Waizbort, procura lastrear e compreender a presença do pensamento do filósofo alemão Wilhelm Dilthey na escrita de Carpeaux, contribuindo para o entendimento de que vários termos utilizados pelo crítico de modo aparentemente corriqueiro carregam, na verdade, significados precisos que o diálogo sugerido permite elucidar.   
Em época mais ou menos próxima à estreia de Carpeaux como objeto de estudo na academia brasileira, dois pesquisadores estrangeiros já vasculhavam um pouco de seu passado europeu. Andréas Pfersmann (1988; 1995; 2014) trouxe importantes informações sobre o posicionamento político e atuação jornalística de Karpfen, assim como, já no Brasil, sua virulenta crítica ao escritor francês Romain Rolland e toda a polêmica subsequente, que contou, inclusive, com a participação do importante pensador católico Georges Bernanos. O brasilianista suíço Albert von Brunn (1999; 2013), por sua vez, interessou-se pela fuga de Carpeaux da Europa dentro de um contexto mais amplo das ligações dos judeus com o Vaticano.




A virada do século traria uma inusual concentração de pesquisas sobre o crítico, começando pela primeira tese de doutorado a ele dedicada, Carpeaux e o futuro da crítica, de Thereza Vicente Vianna, defendida na UERJ em 1999, que procura analisar as posições assumidas por Carpeaux frente à crítica literária geral e brasileira a partir de sua chegada ao Brasil. A autora também se detém nos diálogos possíveis com críticos brasileiros como Antonio Candido e Álvaro Lins (dando destaque à correspondência deste último com Carpeaux), e sopesa a influência de Dilthey e Ortega y Gasset.

No ano seguinte, Mauro Ventura defende na USP a tese Mentalidade barroca e interpretação: a crítica literária de Otto Maria Carpeaux, posteriormente convertida em livro, o único até hoje sobre o crítico. Publicado em 2002 pela Topbooks, De Karpfen a Carpeaux: formação política e interpretação literária na obra do crítico austríaco-brasileiro é obra indispensável que, aprofundando as pesquisas de Pfersmann e von Brunn, apresenta com riqueza de detalhes os anos de formação político-intelectual de Otto Karpfen, incluindo análises de livros escritos por ele nesse período. Uma espécie de biografia intelectual, o estudo permite divisar certa continuidade entre a herança cultural habsburga de Karpfen e o faro crítico do ensaísta radicado no Brasil. Além disso, tomando o livro como cerne de sua pesquisa, Ventura vem expandindo-a continuamente ao longo das últimas duas décadas, seja para pensar a inserção de Carpeaux no campo do jornalismo cultural da época (2009; 2011; 2012), seja para melhor compreender seus textos europeus (2003; 2008; 2010; 2015), ênfase que tem prevalecido em seus estudos mais recentes.

Em 2001, também na USP, Maria Claudete de Oliveira defendeu sua dissertação intitulada Otto Maria Carpeaux: leitor de poesia brasileira, na qual procura desvelar uma possível unidade no modo de apreensão dos poetas brasileiros por Carpeaux, enfatizando questões caras ao crítico como a tensão entre poesia pública e privada; o papel restritivo da ideologia; a dimensão expressiva do ato poético, capaz de converter a experiência mais íntima em “emoção articulada”; e uma função imanente à crítica literária, a de tornar o “‘exteresse’ histórico em interesse vital”, como propõe Carpeaux em “O sol de Homero” (1999).

A publicação dos dois volumes dos Ensaios reunidos em 1999 e 2005 ajudou a reavivar a difusão e o interesse pela obra de Carpeaux, já que praticamente todas as suas coletâneas de ensaios encontravam-se esgotadas e sem perspectivas de reedição. Desde então, outros livros do crítico foram publicados por aqui, como duas edições da História da literatura ocidental (2008, pela biblioteca do Senado; 2011 pela Leya, em box com quatro volumes, depois transformado em novo box com dez pequenos volumes,  vendidos também em separado), A história concisa da literatura alemã (Faro Editorial, 2013), Caminhos para Roma: aventura, queda e vitória do espírito (Vide, 2014; seu segundo livro, publicado na Áustria em 1934), as reedições de A cinza do purgatório (2015) e Origens e fins (2018), e a seleta O canto do violino e outros ensaios inéditos (2016), estes três últimos publicados pela Editora Danúbio. Em 2018 tivemos, ainda, a tradução para o francês de excertos da História da literatura ocidental dedicados ao século XX. Com tradução e edição do brasileiro Luiz Eduardo Prado de Oliveira, professor da Universidade Paris-7, Histoire de la littérature ocidentale au XXe siècle: Extraits, lançado pela editora L’Harmattan, é verdadeiro marco, dinamizando um possível retorno de Carpeaux a seu berço formativo e reivindicando, se pensarmos que seus primeiros textos produzidos no Brasil eram originalmente escritos em francês e depois traduzidos, uma curiosa simetria post mortem.

Com a publicação dos Ensaios reunidos, a figura de Carpeaux passa a ser alvo de disputa ideológica, com acentuado pendor para a atuação de editores, ensaístas e críticos de direita. Tal fato parece ter início com o prefácio de Olavo de Carvalho ao primeiro volume dos Ensaios (1999) e também se deve à sua atuação como um dos idealizadores do projeto e um de seus mais famosos difusores. O longo prefácio perfaz uma abrangente apresentação da vida e obra de Carpeaux, suas referências, vínculos com a época e seu curioso velamento após a morte no meio cultural brasileiro. É possível notar, no entanto, o empenho de Carvalho na construção de uma imagem bastante específica do crítico, valorizando seus ensaios mais antigos, sobretudo os do período 1941-45 – mais próximos, portanto, da herança católico-europeia e temperados, em geral, pela apoliteia Burckhardtiana –, ao passo que a adesão política efusiva à esquerda na resistência à ditadura é vista como decorrente das coerções de um ambiente intelectual predominantemente “esquerdista”, o que acaba por condenar Carpeaux “à progressiva esterilidade intelectual”, cujas consequências danosas seriam a negação de sua missão cultural em paralelo com o silenciamento de quaisquer manifestações religiosas de sua parte.  O tom programático e personalista do texto de Carvalho – porta de entrada de um importante e ambicioso projeto editorial de resgate que, após dois fartos volumes, estacou –, tem tido influência considerável na recepção de Carpeaux em um meio bastante específico, o da internet (o locus efetivo da atuação de Carvalho), em que a obra do crítico é apresentada como tesouro inalienável de um “cânone esquecido” revelado por Carvalho a seus alunos e cujo custo, como aponta o recente ensaio de Daniel Salgado (2018), que vê nessa apropriação de Carpeaux um sintoma de tendências mais amplas e de maior presença no âmbito político atual, é uma amortização conservadora de uma figura e uma obra eminentemente fecundas e dialéticas.

O segundo volume dos Ensaios reunidos (2005) ofertou ao público um belo prefácio do poeta e ensaísta Ivan Junqueira, então presidente da Academia Brasileira de Letras e ex-colega de Carpeaux no labor enciclopédico na década de 1960. Além de relembrar alguns causos de sua convivência com Carpeaux, Junqueira promove um passeio por diversos ensaios do crítico presentes na seleta, destacando como sua característica essencial o anseio de “instigar seus leitores a admitir o conflito perpétuo em que se debate o ser humano e instaurar uma visão de mundo em que todos os valores possam ser confrontados, bem como questionadas todas as regras ou critérios de avaliação estética”. Junqueira também evidencia a presença de uma inquietação religiosa que influencia o olhar do crítico em suas leituras de Kafka e Dostoiévski, por exemplo, e que passará por um processo progressivo de secularização, a ponto de que “O homem que conheci em 1962 não deixava transparecer nenhum vestígio do catolicismo pelo qual pugnara durante sua juventude vienense”.

A partir destas publicações de monta, a renovação do interesse pela vida e obra de Carpeaux adquire um aspecto importante. Sua presença no âmbito acadêmico, em estudos de maior fôlego, dá-se por investigações de seu perfil estético-político-ideológico, procurando entrever suas contradições – de católico monarquista a ferrenho inimigo da ditadura militar brasileira, que abandona a literatura para se dedicar aos escritos políticos –, o que produz trabalhos de muito interesse. Neste sentido, além do livro de Ventura, cabe destacar os trabalhos de Eduardo Gomes Silva (2011; 2015), em especial sua tese defendida na UFSC em 2015. Imagens de Otto Maria Carpeaux: Esboço de biografia talvez seja o estudo mais completo no que se refere à amplíssima gama documental que evidencia a contínua construção de variadíssimas figuras de Carpeaux, gestadas tanto por ele mesmo quanto por seus interlocutores, amigos, desafetos e intérpretes acadêmicos.

No âmbito do exílio e da integração cultural do exilado, além do estudo de Ligia Chiappini (2011), destacam-se as pesquisas de mestrado e doutorado de Vinícius Bogéa-Câmara (2004; 2010), defendidas na UERJ, em que analisa as estratégias de adaptação e de “modelagem do self” efetuadas por Carpeaux diante das condições impostas pelo exílio brasileiro. Se Carpeaux foi o foco exclusivo da dissertação, em sua tese o pesquisador acrescenta o anteparo comparativo da trajetória de Anatol Rosenfeld outro intelectual de língua alemã que fez do Brasil um novo lar. Ainda em chave semelhante, Maurício Parada (2008a; 2008b; 2015) pesquisa os liames entre a formação de Karpen e as ideias austrofascistas, em franca oposição ao nacional-socialismo; explora as complexidades enfrentadas por Carpeaux em sua incorporação ao contexto brasileiro, tensionada pelos polos do “exílio” e do “compromisso”; e, em perspectiva comparada, detém-se sobre as trajetórias de Carpeaux, Stefan Zweig e Vilém Flusser a partir da ideia de exílio como “deslocamento e crítica”. Já Fábio Koifman (2015) analisa minuciosamente todo o processo de obtenção da cidadania brasileira por Carpeaux, destacando tanto suas singularidades quanto seu contexto mais amplo, época de cisões ideológicas crescentes.

Em uma esfera mais próxima da crítica literária, os estudos de Laio Monteiro Brandão (2014; 2016), com mestrado defendido na Universidade Federal de Viçosa, procuram discutir o lugar ocupado por Carpeaux no campo da crítica nacional bem como sopesar os entraves constitutivos ao ofício crítico à luz de importantes contribuições de nosso autor. Por sua vez, as pesquisas de Pedro Theobald (2014; 2018) debruçam-se sobre a correspondência de Carpeaux com o intelectual gaúcho Manoelito de Ornellas e sobre a recepção da História da Literatura Ocidental a partir da crítica do período, em especial as avaliações de Wilson Martins.

Outro trabalho de muita relevância é o de Valéria De Marco (2013), que destaca o papel pioneiro de Carpeaux como mediador entre o Brasil e a literatura das duas Espanhas, a peninsular e a exilada. Em artigo breve e prolífico, a pesquisadora põe em evidência a importância do método comparatista de Carpeaux; o interesse profundo do crítico pelo barroco espanhol em conexão íntima com sua herança austríaca; e os vínculos afetivos e pessoais do ensaísta com intelectuais espanhóis exilados como Francisco Ayala, Camilo José Cela e Max Aub, autores então pouco conhecidos no Brasil sobre os quais escreveu. De Marco ainda oferta a seus leitores um importante ensaio de Carpeaux não compilado em livro sobre o último nome da tríade (“A descoberta de Aub”) e observa a força da “enunciação militante” do crítico, que deseja dividir com o leitor brasileiro “as múltiplas maneiras de refletir sobre as utopias derrotadas da Espanha, sobre aquele momento especial da História do Ocidente em que, a seu juízo, haviam sido abolidas as fronteiras entre o povo e o intelectual e, sobretudo, entre línguas e países.”

Fora do âmbito universitário, cabe destacar a atuação do editor Eduardo Zomkowski, vinculado às duas primeira publicações da Editora Danúbio mencionadas anteriormente e responsável pelo vasto projeto “Otto Maria Carpeaux: obra dispersa”, que procura disponibilizar textos poucos conhecidos do crítico por meio da plataforma medium e pela página homônima no Facebook.

Se no Brasil Carpeaux não se isentou de polêmicas, no final de 2015, um artigo de Bruno Gomide, professor de Língua e Literatura Russa da USP, lançou uma suspeita de plágio efetuada por Carpeaux em seu artigo “Rússia sacra”, no qual teria se apropriado em vasta medida de “O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov”, famosíssimo ensaio de Walter Benjamin. Como seria de se esperar, a alegação causou certo rebuliço entre os admiradores do austríaco-brasileiro, sobretudo porque haveria um precedente, assinalado no livro de Ventura, em um ensaio sobre o contista norte-americano Thorton Wilder, intitulado “Ponte Grande”. No caso deste, o furto seria sumário, atribuível a algum breve esquecimento (reforçado por algumas incorreções) e, além disso, constituiria, em certa medida, uma leitura benjaminiana de Wilder. Mas “Rússia sacra” não parece comportar tais nuances, a começar pela identidade entre seus objetos.

Embora acredite que o caso seja bem mais complexo do que parece, com fortes indícios de que os escritores se conheciam, uma avaliação objetiva não parece deixar muitas dúvidas sobre o aproveitamento não nomeado de Benjamin por Carpeaux neste texto. Se confirmado – e tal questão demanda apuração urgente, exigindo uma leitura atenta da presença direta e indireta de Benjamin na obra de Carpeaux –, a mancha da suspeição passará a rondar boa parte de sua produção. Mas, assim como Gomide, creio que há uma exceção irrevogável: a leitura atenta e original de Carpeaux em face da literatura brasileira, tanto a do passado como a que germinava sob seus olhos. E é justamente essa leitura, pelo filtro específico do romance brasileiro, que move minha pesquisa de doutorado, iniciada em 2018 na USP e que ouso incluir nesse sempre provisório levantamento da fortuna crítica de Carpeaux.

*

É inegável que os últimos anos testemunharam uma renovação de interesse pela vida e obra de Carpeaux, ainda tão pouco conhecidas entre nós. E este interesse demanda ampliação, seja coligindo e tornando disponível sua infinda obra dispersa (tanto em edições temáticas, preparadas por especialistas, quanto por meio de uma disseminação mais ampla a partir de um banco de textos digital, por exemplo), seja refletindo sobre as múltiplas nuances de seu pensamento crítico, literário e político.

Em 2019 completam-se 80 anos da chegada de Carpeaux ao Brasil, data a ser celebrada e que se fez mote de uma importante publicação acadêmica – salvo engano a primeira – integralmente dedicada ao crítico, com lançamento previsto para o final do primeiro semestre. Trata-se do número 20 da Teresa – revista de literatura brasileira da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), casa que abrigou alguns de seus mais importantes leitores. E é com alegria e responsabilidade que me incluo entre os organizadores dessa publicação há muito esperada, que procura congregar documentação difusa ainda não recolhida em livro e oferecer um apanhado de leituras críticas, por meio de ensaios e entrevistas, sobre as diversas faces de sua obra. Mais do que isso, a publicação da Teresa faz-se ainda mais urgente diante da acentuada polarização ideológica, do recrudescimento do autoritarismo, do desrespeito à autonomia universitária e do desprezo pelo pensamento crítico que temos vivenciado. É certo que Carpeaux não se calaria diante desses despropósitos. Que possamos voltar a ouvir sua voz – forte, incisiva, ensaística – a partir de seus próprios textos, sem mediações oportunistas. Que possamos, enfim, reaver algo de sua presença, que muito nos faz falta.

É tempo de ler Otto Maria Carpeaux.




Obras de Otto Maria Carpeaux publicadas a partir dos anos 1990

CARPEAUX, Otto Maria. Sobre letras e artes. Seleção e prefácio de Alfredo Bosi. São Paulo: Nova Alexandria, 1992.

______. A literatura alemã. Posfácio de Willi Bolle. São Paulo: Nova Alexandria, 1994.

______. Ensaios reunidos – Vol.I (1942-1978). Organização, introdução e notas de Olavo de Carvalho. Rio de Janeiro: Topbooks; UniverCidade, 1999.
______. Ensaios reunidos – Vol.II (1946-1971). Prefácio de Ivan Junqueira. Rio de Janeiro: Topbooks; UniverCidade, 2005.
______. História da literatura ocidental. 4.ed. São Paulo: Leya, 2011.
______. História concisa da literatura alemã. Posfácio de Willi Bolle. São Paulo: Faro Editorial, 2013.
______. Caminhos para Roma: aventura, queda e vitória do espírito. Tradução de Bruno Mori. Campinas: CEDET; Vide Editorial, 2014.
______. A cinza do purgatório: ensaios. Balneário Camboriú, Livraria Danúbio Editora, 2015.
______. O canto do violino e outros ensaios inéditos. Balneário Camboriú: Livraria Danúbio, 2016.
______. Origens e fins: ensaios. Balneário Camboriú: Livraria Danúbio, 2018.

Estudos sobre Otto Maria Carpeaux
BOSI, Alfredo. Otto Maria Carpeaux. A dignidade das letras. Leia Livros, São Paulo, 15 set. 1978. Reintitulado “Carpeaux e a dignidade das letras”, foi recolhido em ______. Céu, inferno: ensaios de crítica literária e ideológica. São Paulo: Editora 34, 2010, p. 279-282.
______. Orelha. In: CARPEAUX, Otto Maria. Ensaios reunidos – Vol.I (1942-1978). Organização, introdução e notas de Olavo de Carvalho. Rio de Janeiro: Topbooks; UniverCidade, 1999.
______. Por um historicismo renovado. In: Literatura e resistência. São Paulo: Cia das Letras, 2002, p.7-53.
______. Sobre Otto Maria Carpeaux. In: Entre a literatura e a história. São Paulo: Editora 34, 2013, p. 405-421.
______. Relendo Carpeaux. In: Três leituras. Machado, Drummond, Carpeaux. São Paulo: Editora 34, 2017, p. 61-81.
BOGÉA-CÂMARA, Vinicius. Otto Maria Carpeaux: exílio, adaptação e modelagem do self no Novo Mundo. Dissertação (Mestrado em Sociologia) Instituto de Estudos Sociais e Políticos, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004.
______. Prismas do exílio: trajetória intelectual e modelagem do self em Anatol Rosenfeld e Otto Maria Carpeaux. Tese (Doutorado em Sociologia) Instituto de Estudos Sociais e Políticos, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.
BRANDÃO, Laio Monteiro. O método de Otto Maria Carpeaux e a crítica literária brasileira. Primeira Escrita, v.1, p. 61-76, 2014.
_________. Carpeaux no espelho do Brasil: perspectivas para uma leitura crítica da literatura brasileira. Dissertação (Mestrado em Letras) Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2016.
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CARVALHO, Olavo de. Introdução a um exame de consciência. In: CARPEAUX, Otto Maria. Ensaios reunidos – Vol.I (1942-1978). Organização, introdução e notas de Olavo de Carvalho. Rio de Janeiro: Topbooks; UniverCidade, 1999, p. 15-69.
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O projeto “Otto Maria Carpeaux: dispersos”, coordenado por Eduardo Zomkowki, pode ser acessado aqui: https://medium.com/@ottocarpeaux

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